Vida Saudável
Trapoerabas comestíveis
Se existisse um super cientista criador de todos os matinhos, eu acho que ele se inspiraria na trapoeraba para criar sua super-planta.
Primeiro, ele faria uma planta pequena, mas que se alastra e cresce rapidamente. Depois, que tal uma planta que qualquer pedaço em contato com a terra tem a capacidade de criar raízes? Igual monstro de filmes, que mesmo picadinho pelo herói, retoma seus poderes. Hum, que mais? Ah, e se ela mesma tivesse a capacidade de plantar suas próprias sementes? Ótimo, faremos isso. Ah, vamos fazer com que ela nasça no sol e na sombra, pra ter certeza que vai nascer em qualquer lugar. Ah, sim, ela vai. Por fim, poderia ser bonita, né? Coloridinha? Com flores numa cor incomum, que tal azul? Por fim, vai ser resistente a todos os pesticidas.
Com vocês... A SUPER PLANTA!
Vamos treinando o nome. Tra-po-e-ra-ba. Trapoeraba azul é a nossa super-planta. Pois é, nome mais popular dessa verdurinha linda é realmente difícil. O nome científico é um pouco mais fácil, Commelina erecta. Comelina, trapoeraba azul, você escolhe se quer seguir pela nomenclatura tupi ou pela latina.
Mais uma planta alimentícia não convencional legítima. Aliás, uma planta invasiva e ruderal de categoria. O que é uma planta ruderal você já sabe: crescem rápido, se propagam rápido, se multiplicam facilmente, crescem sozinhas e em qualquer lugar e infestam as cidades. Pra nossa sorte.
Sem muito estardalhaço, ela vai tomando conta do seu jardim, do seu canteiro. Imagino que pra agricultura, ela seja uma praga, porque é tecnologia vegetal de ponta: sementes que se desenvolvem debaixo da terra. Sim, esse processo se dá por partenocarpia, através de flores modificadas que saem diretamente dos rizomas, e podem germinar mesmo sendo semeadas superprofundamente. Coisa de ficção científica!
Se você procurar artigos, vai ver que ela é detestada pela agricultura, porque domina as plantações de cana, milho, café e verduras e é uma dor de cabeça sem fim. Você arranca, ela rebrota. Você enterra, ela rebrota. Trator, enxada. Ela volta.
Se você é desastrado, descuidado, não quer ter trabalho com a horta, já sabe: plante trapoerabas azuis. E fique de olho.
A trapoeraba azul gosta de sombra, então junto com o beldroegão, ficam lindas onde nada mais cresce na horta. Ah, mas você mora em apartamento? Não se faça de rogado e coloque uns galinhos de trapoeraba na terra: você vai ter verdura por muito, muito tempo. Elas não gostam muito de sol forte, nem nem solo seco, e um vaso na sala ou perto da janela deve ficar lindo com folhas bem gordinhas.
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Em vaso, no sítio. Regada uma vez por semana, ou nem isso, e crescendo igual samambaia. |
A literatura é um pouco inconsistente a respeito do consumo dela. Que é comestível, todo mundo sabe - sua parente oriental, a Commelina benghalensis é verdura popular na China e Índia. Mas a dúvida fica: crua ou cozida?
Alguns estudos indicam teores altos de fitatos e oxalatos. Outros, saponinas. Todas substâncias que devem ser consumidas com moderação, porque podem fazer mal pra digestão e absorção de nutrientes Na dúvida, eu sempre consumo cozida, refogada. As flores azuis podem ser consumidas cruas, entrando na salada. Tem gente colocando no suco verde, na salada. Eu, pelo sim e pelo não, não vou endossar usos que não tenho certeza.
Assim, mal não vai fazer de imediato, talvez uma dor de barriga, ou nem isso. Mas você vai estar perdendo um monte de nutrientes, porque o fitato presente nas planta remove minerais como cálcio, ferro, magnésio e potássio do organismo. Cozinhar resolve, então, não seja teimoso.
E pra saúde, ela é boa? Análises de diversos autores indicam teores bons de proteínas, cálcio, magnésio e zinco, além de fibras.
Na panela, prefira as folhas, porque os caules são fibrosos. Há registro de uso das raízes e rizomas subterrâneos, mas não os coletei. Se estiver inspirado, dizem que são comestíveis cozidos. As folhas tem gosto suave e textura cremosa, igual ora-pro-nobis ou bertalha, mas sem produzir baba. Uma iguaria quando cozidas no arroz, no omelete ou em bolinhos fritos.
(PS: Existem outras espécies de Trapoeraba, que serão abordadas mais pra frente, num próximo post.)
GUIA DE IDENTIFICAÇÃO
Commelina erecta, Commelina diffusa. Planta monocotiledônea, perene, herbácea, ereta ou "rasteira", ramificada, suculenta e articulada. Folhas pecioladas, de 6-12cm de comprimento, arredondadas mas com ponta aguda, podem ter pilosidade maior na face debaixo da folha. Caules com nervação arroxeada. Flores azuis características, abertas pela manhã.
LOCAL DE OCORRÊNCIA
Locais sombreados ou pleno sol, preferencialmente férteis e umidos. Frestas, beiras de muro, canteiros.
MODO DE PREPARO
Refogadas, cozidas, escaldas, branqueadas, fritas. Evitar consumo cru. Flores comestíveis e coloridas.
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