HÁBITOS ALIMENTARES DE ADOLESCENTES : A PERCEPÇÃO DE MÚLTIPLAS EXPERIÊNCIAS
Hábitos alimentares de adolescentes: A percepção de múltiplas experiências
*AMANDA LO BIANCO BORGES
28/01/2015
A adolescência é a fase na qual ocorrem intensas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais. Estas mudanças fazem parte de um processo contínuo e dinâmico, que sofre influências do meio social e do ambiente onde o jovem se encontra. Nessa fase da vida, a alimentação tem um peso “extra”. É na adolescência que se consolidam os hábitos alimentares para a vida adulta. Além disso, é um período de altas necessidades nutricionais que precisam ser satisfeitas para propiciar adequado crescimento e desenvolvimento da pessoa. Como é o período em que se adquire determinada independência e assumem-se responsabilidades, o adolescente fica mais vulnerável, do ponto de vista nutricional.
Num contexto mais geral, as escolhas alimentares podem ser influenciadas pelos determinantes sociais de saúde, que envolvem fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), atuante nas comunidades da Zona Oeste, identificou que a dieta da família e dos amigos e os aspectos psicológicos e econômicos são os principais fatores de influência na criação dos hábitos dos adolescentes. A vulnerabilidade social da população dessas comunidades é um fator adicional e preponderante para o bem-estar físico, mental e social que definem o conceito de saúde. Além disso, há certo comodismo em relação às práticas alimentares observadas atualmente, que em geral não são saudáveis.
Durante os trabalhos de educação nutricional e alimentar realizados no NASF da Zona Oeste do Rio, percebeu-se o elevado consumo de alimentos de alta densidade energética com baixo valor nutricional. Entre os alimentos mais consumidos estão os salgadinhos à base de milho, refrigerantes, maionese, biscoitos recheados, frituras e pão branco. De acordo com novo “Guia Alimentar para a População Brasileira” (2014), do Ministério da Saúde, os passos para a alimentação saudável devem limitar o consumo de alimentos processados e evitar o consumo de alimentos ultraprocessados. E são estes os grupos de alimentos os mais consumidos pelos adolescentes, o que leva ao surgimento cada vez mais precoce do sobrepeso e da obesidade, assim como de outras doenças crônicas não-transmissíveis, como a diabetes. "Falta de tempo" é a justificativa mais frequentemente alegada pelas famílias, que substituem a comida caseira pela comida congelada, o suco natural pelo industrializado. A praticidade para os pais se traduz em problemas de saúde para os filhos, apresentando-se em forma de hipertensão arterial e dislipidemias (altos níveis de gorduras no sangue). Os adolescentes também não possuem o hábito de realizar as seis refeições diárias e negligenciam o desjejum e o jantar. A falta de atividade física relacionada ao sedentarismo e às facilidades da vida moderna também contribuem no processo “obesogênico” desse grupo. É preciso enfatizar que as ações de educação nutricional e alimentar devem ser permanentes. A mudança de hábitos, muitas vezes já enraizados, requer diálogo, reflexão e vigilância constantes, num grupo de adolescentes tipicamente despreocupados com o futuro de sua própria saúde. As ações educativas têm que ser atrativas e dinâmicas para ampliar a autonomia e a consciência dos adolescentes no momento da escolha dos alimentos. O trabalho realizado pelo NASF também estimula a integração social lançando mão de atividades lúdicas, oficinas culinárias com reaproveitamento integral de alimentos (otimiza a utilização dos recursos alimentares disponíveis no local), oficinas temáticas, rodas de conversa, entre outras.
O cenário exposto até aqui é fundamental para que se entenda e se pratique o conceito da Segurança Alimentar e Nutricional, que em sua definição indica o consumo alimentar de qualidade. Na 28ª edição doPrêmio Jovem Cientista, o tema abordado convida à reflexão sobre as práticas alimentares promotoras de saúde, que devem ser cada vez mais estimuladas dentro de escolas, em unidades de atenção básica e em locais públicos, nos fazendo repensar a importância da educação nutricional e alimentar na formação de todos os cidadãos. * Amanda Lo Bianco Borges é nutricionista do NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família Fonte:http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/01/bhabitos-alimentares-de-adolescentes-b-percepcao-de-multiplas-experiencias.html
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