Vida Saudável
Excesso de sódio e suas complicações
Embora frequentemente associado ao sabor salgado, o sódio atua como conservante para os alimentos industrializados e também é usado para enaltecer o sabor, mesmo dos doces. Além do sódio adicionado no preparo industrial, há também o sódio natural dos alimentos e, ainda, o sal (que contém sódio) colocado no prato, na hora de comer. Desta forma, ao final de um dia o saldo é alto.
O consumo de sódio em excesso, ao longo da vida, está associado à hipertensão arterial, principal fator de risco para as doenças cardiovasculares. A hipertensão arterial atinge 23,3% da população adulta brasileira (maiores de 18 anos), de acordo com o estudo Vigilância de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (2010). Já as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 319 mil óbitos em todo o país, em 2009.
Quando está em excesso, o sódio faz mal porque deve estar sempre em equilíbrio com a quantidade de água presente no sangue. Quando está sobrando, o organismo atua para restabelecer o equilíbrio, tirando água de dentro das células para diluí-lo. Com esse aporte de água, o volume de sangue aumenta, elevando a pressão dentro das artérias e favorecendo o surgimento das doenças cardiovasculares. Além disso, o sal em excesso é responsável pela retenção de líquidos e pela formação de edemas no corpo. Alguns estudos também relacionam o exagero de sódio ao câncer de estômago e à osteoporose. Apesar destas associações, não devemos entender o sódio como um vilão, mas sim o excesso dele. Em quantidades ideias, o sódio desempenha uma função de extrema importância no organismo: ajuda a regular a pressão osmótica (mecanismo que controla a quantidade de água nas células). Entretanto, o risco de ingerir quantidade insuficiente deste mineral é mínimo. Diversos alimentos contém sódio naturalmente e poderiam fornecer a quantidade necessária ao funcionamento do organismo sem qualquer adição de sal. Carnes, peixes, derivados de leite e vegetais como feijão, tomate e alface, fornecem ao corpo a quantidade mínima necessária de sódio por dia.
Embora exista o consenso de que o consumo excessivo de alimentos com alto teor de sódio possa acarretar doenças renais e cardíacas, além de elevar a pressão arterial - quadros que melhoram com a diminuição do sódio - grande parcela da população brasileira consome sal em excesso. Dados do IBGE indicam que o consumo médio diário da população brasileira seja de 9,6 g de sal por pessoa, ou seja, o dobro do recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (5g por dia ou 2g de sódio). Estes mesmos dados revelam que mais de 70% dos brasileiros consomem mais do que 5g de sal ao dia (o equivalente a quatro colheres rasas de café), chegando este percentual a mais de 90%, no caso de adolescentes de 14 a 18 anos e adultos da zona urbana. Os adolescentes brasileiros apresentaram consumo muito mais elevado de alimentos como salgadinhos (sete vezes maior), biscoitos recheados (perto de quatro vezes maior), biscoitos doces (mais de 2,5 vezes maior) e biscoitos salgados (50% maior) em relação aos adultos.
Essa preocupação se iniciou com a pesquisa realizada pela Anvisa, em 2010, que avaliou o perfil nutricional de alimentos processados. O estudo revelou, por exemplo, que o consumo de um pacote de salgadinho de milho ultrapassa a quantidade máxima de sódio recomendada por dia, além de apresentarem alta densidade energética e baixo conteúdo de fibras.
Preocupados com a saúde da população e o uso abusivo de sódio pela indústria alimentícia, o Ministério da Saúde em conjunto com a indústria alimentícia firmaram um acordo em 2011, visando a redução gradual na quantidade de sódio em alguns alimentos como macarrão instantâneo, pão francês, bolos prontos, biscoitos doces e salgados, maionese, batata frita, batata palha, mistura para bolos e salgadinhos de milho. A meta de redução do sódio é diferente para cada tipo de alimento e deverá ser cumprida em um prazo estabelecido conforme é possível conferir na tabela a seguir, para alguns dos alimentos:
Fonte: Portal Saúde (2011) (www.portalsaude.org)
As primeiras reduções de sódio já estão acontecendo neste ano: massas instantâneas já devem estar sendo produzidas com teor de sódio 30% menor, pães de forma e bisnaguinhas já devem vir com redução de 10%.
Antes do início da redução do sódio, cada 100 gramas de macarrão instantâneo produzido no Brasil continha entre 2.036 e 4.718 mg de sódio. No Canadá, a média de sódio é de 926,9 mg a cada 100 gramas do produto. No caso do pão de forma, os índices dos produtos brasileiros também são maiores. Enquanto no Canadá a média varia de 361 a 526 mg de sódio a cada 100 gramas do alimento, no Brasil, a mesma quantidade do produto trazia entre 437 e 796 mg.
As ações para a diminuição do sódio ao longo do prazo serão monitoradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelas vigilâncias estaduais. Embora não sejam previstas multas ou punições neste acordo, já que é voluntário, a ANVISA pode denunciar que a meta de redução não foi respeitada pela indústria e retirar a classificação de produto mais saudável. Além dos consumidores ganharem com este acordo, as indústrias de alimentos também ganham ao ter esse papel de responsabilidade social.
O Ministério da Saúde estima que retirará do mercado, até 2014, 1.634 toneladas de sódio. A redução do consumo de sal/sódio é reconhecida e recomendada mundialmente pelas organizações de saúde como uma estratégia efetiva na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. Estudos confirmam que existe uma relação custo-benefício muito favorável ao se adotar uma estratégia nacional de redução do sódio. Sendo assim, ao longo do processo de redução de sódio, deverão ser realizados estudos para avaliar os reflexos da redução de sódio nos indicadores da saúde. Esta medida, provavelmente trará bons resultados na prevenção e controle, principalmente da hipertensão arterial, uma das doenças crônicas não transmissíveis que mais acomete a população e que aumenta a cada dia.
Kélin Schwarz
Nutricionista M. Sc.
Doutoranda em Ciências - CENA/USP
Sob orientação: Profa. Dra. Jocelem Mastrodi Salgado
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