Falso dente de leão, radite, almeirão caipira, almeirão do mato
Vida Saudável

Falso dente de leão, radite, almeirão caipira, almeirão do mato


Quando eu era criança, achava que todas as plantas de "assoprar" eram a mesma coisa: todas tinham aqueles pompons, que eram raros de serem encontrados inteiros, sem terem sido assoprados pelo vento. Definitivamente, as sementes do dente de leão são as mais gostosas de assoprar. Mas existia uma outra flor amarela, que fazia as vezes de substituto da brincadeira. Por ser tão parecido com o dente de leão original, nunca demos atenção.

Já vi em algum lugar....

O almeirão do mato, chamado em Portugal de leituga, é uma verdura abundante e fácil de ser encontrada. Ela tem predileção por pleno sol, tolerando umidade ou seca - e adora nascer em gramados. Qualquer grama mais mal cuidada vai ter essas verdurinhas nascendo - protegidas pela própria grama. Como seu caule é muito curto e quase subterrâneo, podas da grama não a afetam. E na estiagem, especialmente nos meses mais frescos aqui do sudeste, sua raiz profunda encontra água, enquanto a grama perece, ela se destaca, com suas folhas enormes e suculentas.

Pode ter folha lisa

Pode ter folha recortada
A textura é boa, mas fica especialmente melhor picada fininho, combinando muito bem com arroz-e-feijão. As folhas jovens são macias e não perdem nada pras outras verduras da feira, suculentas, macias e saborosas. Se mais velhas, ou após a floração, podem ficar muito fibrosas e um tanto amargas, e a solução talvez seja cozinha-las ou assustar na panela com um pouco de alho.

Agora, no começo de outubro, ela vai se encher de flores amarelas - e aí mora sua diferença com o dente de leão. As flores surgem multiplas em um único ramo, bifurcado, ao contrário do dente de leão, que dá apenas uma flor por ramo, mais pra junho-julho. Mas as diferenças não precisam ser muito marcadas aqui - elas tem usos medicinais parecidos e são comestíveis - além de valores razoáveis de vitamina C, cálcio, zinco, fósforo e enxofre.

Eu tenho a impressão que a maior parte das ervas ruderais tem uma característica em comum, além de flores amarelas: um sabor ligeiramente amargo. Pro almeirão do mato, não foge a regra: o sabor lembra catalonha, e claro, seu parente próximo, o dente-de-leão. Dependendo da variedade, folhas sem amargor ou muito amargas, folhas pouco ou muito serrilhadas...  só provando pra saber. Lá em casa, num canteiro de poucos metros, encontrei pelo menos umas cinco variedades de almeirão-caipira. Não sei de depende da época do ano, da luminosidade, da umidade e da adubação, mas que as formas variam, variam.

Folhas de plantas nascendo todas
no mesmo terreno: cada uma com
uma forma diferente. Todas H. chillensis.
Em locais sombreados, as folhas tendem a ficar maiores, mas não é regra - foi o que observei. E ela gosta de umidade constante no solo, mas sem encharcamento: as folhas passam dos vinte centímetros facilmente.

As duas principais espécies são Hypochaeris radiata e Hypochaeris chillensis. Tenho um certo preciosismo em identificar espécies, e é fácil distinguir as duas. A H. radiata tem todas as folhas partindo da base, e hastes florais sem folhas. A H. chillensis por sua vez tem algumas folhas na haste floral - é mais fácil identificar as duas no período de floração. Mas não se preocupe com isso - ambas são comestíveis.

Antes de florir, pendão curvado, igual rabo de escorpião.

Flor amarela, típica.

H. chillensis: folhas na base da haste floral.


GUIA DE IDENTIFICAÇÃO
Hypochaeris radicata, Hypochaeris chillensis. Planta herbácea, apresenta cause pequeno ou pouco deselvolvido, folhas na altura do chão, todas partindo do mesmo ponto, em forma de roseta. Folhas longas, muito ou pouco serrilhadas, macias, com poucos pelos, que soltam latex quando cortadas. Haste floral que cresce em forma de rabo de escorpião, com folhas pouco atrofiadas na base (H. chillensis) ou sem folhas (H. radicata). Flores amarelas, na ponta da haste, típicas, em capíutlos - muitas por haste. Sementes finas e compridas, associadas a papus plumoso (algodão), formando bolas de "pompom".

LOCAL DE OCORRÊNCIA
Em especial, gramados e hortas, além de terrenos baldios. Não se desenvolve se coberta de muita vegetação. Fica maior e mais viçosa em solos úmidos a meia sombra. Altamente invasiva.

CONSUMO E PREPARO
Crua ou cozida, à semelhança do almeirão e da catalonha. Sabor ligeiramente amargo, variando de planta pra planta.





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