Vida Saudável
Almeirão-Japonês, Roxo, de Árvore
A moça que me fornece mudas orgânicas para a horta, lá em Itu, a Dona Fátima, sempre aparece com uma ou outra novidade. Já foram alfaces em forma de botão-de-rosa, salsa gigante e couve-rendada. De vez em quando, o almeirão-roxo, ou almeirão-japonês. As outras sementes, são compradas, mas o almeirão foi ganho. Pelo visto, a grande "industria" agrícola de sementes não dá bola para ele.
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Nasce sozinho, no meio do mato. |
Esse almeirão tem sabor mais suave e bem menos amargo que o almeirão normal - é tão amargo quanto a alface roxa. Na verdade, ele é mais parente da alface do que do almeirão. Pois bem, desde que foi levado pra horta, ganhou destaque pela cor e pelo tamanho avantajado. São lindos, com folhas quase prateadas e nervuras arroxeadas, pontiagudas. Foi dele que fizemos salada, colhidos na calada da noite, no mutirão de feitio do forno à lenha em um assentamento em Araras. Foi dele que comemos no almoço na pousada em São José do Barreiro. Lá em casa, sempre que posso, colho folhas frescas para consumo imediato, onde são doces e macias. Ele está por toda parte.
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Belíssima. |
Parente da alface, da escarola e dos almeirões, o almeirão-selvagem é uma daquelas plantas que você não vai ter trabalho nenhum de cuidar, e vai bem mesmo na época da seca. Tudo que ele precisa é de bastante sol. Na realidade, ele é muito parecido com a serralha - tem um caule alto e oco, de onde partem as folhas, e quando a planta está prestes a florir, cria uma copa cônica, igual árvore de Natal. As flores também são conhecidas de que tem horta - idêntica a da alface e até da do dente-de-leão. As abelhas adoram, e precisam ser rápidas. Depois de poucas horas abertas, delicadamente ele se fecha, gerando em poucos dias uma profusão de "pompons" com sementes pretas (papilhos).
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As flores, efêmeras e delicadas. |
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Sementes, esperando o vento. |
O problema é que depois da floração, o almeirão mostra a que veio. Você vai encontrar almeirões viajantes brotando nas calçadas, nas quinas, na frestas, nos vasos, até nos telhados. Apesar de ser uma verdura cultivada, não tem frescura e se comporta como planta ruderal, invasiva. Pra sua sorte, você terá almeirões nascendo até mesmo onde não esperava vê-los.
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Até na fresta no muro ela nasce. |
Os talos florais jovens são comestíveis, e você pode conferir receitas com eles aqui. Na verdade, a planta toda é comestível, crua ou cozida - a raiz enorme, parecida com uma cenoura, pode ser colhida antes da floração, picada finamente com uma faca afiada, seca ao sol e usada para fazer chá ou torrada para fazer "café", muito comum na Europa de antigamente (quando o café importado era caro ou escasso). Seu sabor amarguinho denuncia seus usos como digestiva e para males da digestão. Para quem faz cerveja caseira, uma sugestão de uso para esse amargo suave e aromático, ao estilo do lúpulo.
Para plantar, as sementes precisam apenas serem cobertas por terra. Algumas não brotam bem, porque muitas flores aparentemente se fecham antes da polinização e formam sementes "ocas", mas pode ser apenas impressão minha. Se quiser sementes, vá a uma horta urbana aqui em São Paulo e peça para alguém pegar sementes para você - poucas são suficientes para começar a produção. Ou compre pela internet, troque com amigos, peça pelo facebook.
Os nomes comuns, são almeirão-japonês (talvez por seu uso entre a colônia no interior de SP), almeirão-de-árvore (por causa do tamanho, chegando nos 2 metros facilmente), almeirão-roxo e no sul, chamado de radite. No fim, é tudo a mesma coisa. Vá colhendo as folhas debaixo que ele vai crescendo, igual um pé de couve.
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À esquerda, na horta, ficando grandinho. |
Ah, sim, ia me esquecendo. Existem três tipos mais comuns dessa planta: a de folhas lisas, a de folhas recortadas e a de folhas sem veios vermelhos. O ideal é não plantar ao mesmo tempo para não misturar as variedades, mas fica a seu critério. Eu prefiro o de folha lisa, que é mais fácil de lavar, mas é realmente um gosto particular.
Se achar amargo, corte as folhas e deixe na água por alguns minutos, para drenar a seiva. Como porém, vai perder a parte medicinal da planta, que protege o fígado e auxilia na digestão. Mas é melhor que não comer, certo?
O nome científico é polêmico - citado às vezes como parente da chicória, às vezes como parente do alface, ficaremos com a definição mais bem aceita, a de
Lactuca canadensis. Isso não importa muito, na verdade, mas pode aparecer sob o nome de
Chicoryus intibus.Entra na lista de "plantas úteis no período do racionamento".
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