Vida Saudável
Como uma onda no mar
Well, acabei de sai de um retiro no Deer Park Monastery, California, com o professor Thich Nhat Hanh (Thay) – Monge zen budista, poeta, escritor e pacifista, que foi recomendado ao prêmio Nobel da Paz por Martin Luther King em 1967.
Veja aqui as fotos: http://www.flickr.com/photos/38241762@N08/sets/72157622400584472/show/
Há alguns anos quando li o seu primeiro livro pensei: Meu Deus, onde estão as câmeras? Ele está me assistindo e escreveu esse livro sobre mim! E desde então eu venho estudando essa filosofia pelos seus livros (são mais de 100). Esse primeiro livro se chama “Aprendendo a lidar com a raiva” e ele me escolheu numa livraria e praticamente se jogou em cima de mim. Eu nem estava lá pra comprar um livro. Eu nem tinha o hábito de ler. Além do mais, a capa era azul e eu nem gosto de azul...
(Esse foi um dos muitos milagres que já aconteceram na minha vida... mas essa é outra estória.)
Com uma didática amável, generosa e marketeira, o Thay desfiou os Sutras (textos sagrados do Budismo) e organizou de uma forma incrivelmente palatável os ensinamentos sobre vitalidade, paz, amor e compaixão. A princípio estamos amarelos de conhecer essas idéias e é tudo aparentemente muito simples e óbvio. Muito simples de falar, mas, muuuuuuito difícil de implementar.
Conviver com esse monge de pertinho e praticar a meditação guiada por ele é muito diferente de ler os seus livros. Esse contato foi muito impactante e fez cair a ficha de que na grande maioria, nos tornamos mentes desgovernadas carregando corpos descuidados por aí. Sempre brigando pra conseguir paz. Pensando uma coisa, dizendo outra e fazendo outra. Míopes, surdos e anestesiados. Totalmente focados nas nossas necessidades, nos nossos desejos – tudo Eu – reinamos absolutos da
umbigolândia.Hellooo. Tem muito mais lá fora. E tem muuuuito mais lá dentro, lá nas profundezas, lá onde ninguém mais pode acessar, lá onde você está quando ninguém está olhando, lá quando você está dormindo e sonhando, lá onde estão os seus Deuses e Demônios preparando uma rebelião.
A umbigolândia é um território árido porque você se distrai do mundo ao redor e fica está focado em você. Até aí tudo parcialmente bem porque você também precisa de atenção e cuidados. O problema pior é quando esse você que absorve toda a sua energia construtiva não é você de verdade...
Conquistamos (com muita luta) a “liberdade” de comunicação, de opinião, de relacionamento, de consumo. Hoje nos comunicamos de qualquer lugar por celular, sms, email. Em nome da liberdade, podemos no casar, descasar, casar de novo várias vezes, ter um filho aos 43 anos depois de um tratamento ultra-moderno e sem efeitos colaterais e depois de tudo isso podemos decidir ser homosexuais, bisexuais, pansexuais, transexuais e até a mudar de sexo por meio de uma cirurgia. Podemos ainda escrever essa estória num blog ou fazer um filme com trilha sonora emocionante e postar no youtube (se você for bem relacionado pode publicar um livro e acabar no programa do Jô).
Compramos carros 4 x 4 que nunquinha pisaram na lama, relógios de alta profundidade que nunca mergulharam mais fundo do que a pia do banheiro, implantamos peitos, bundas e lábios. Vale tudo pra construir um personagem interessante, compatível com as capas da Vogue, Harpe’s Bazaar... (A intenção é se parecer com a Angelina Jolie mas o resultado é uma semelhança incrível com a Margie Simpson. Quero ver o que vai acontecer quando a próxima moda for lábios fininhos...).
Daí deixamos de comer para ficar com um corpitcho bacana, tomamos 8 cafés por dia, depois tomamos um remedinho pra dormir bem porque pele bonita precisa de uma boa noite de sono, tomamos outro remedinho para ir ao banheiro porque soubemos que hormônios do rejuvenescimento são produzidos no intestino, outro remedinho pra acalmar a ansiedade e um complexo de vitaminas recomendado pelo nosso Nutrólogo (um médico que pagamos pra nos ensinar uma dieta saudável, está super na moda...).
Achamos que vamos nos sentir plenos quando a nossa empresa chegar no azul, quando a balança corresponder aos nosso esforços, quando acabar esse MBA infernal que mata a praia dos sábados, mas, quando chegamos lá – surpresa! – não paramos pra desfrutar essas conquistas e já partimos pras próximas buscas porque, afinal, o tal do tempo não pára.
Dear, lamento informar, mas, o que você procura não está lá. Estaria aqui e agora se você conseguisse trocar a sintonia da sua estação cerebral e permitisse se encontrar com o momento presente. Você está hoje exatamente no lugar pra onde caminhou com as suas escolhas. É hora de parar e desfrutar. Aqui e agora traz muitas pequenas alegrias e algumas grandes alegrias que, juntas, somam uma felicidade grandona. E se você chegar à conclusão de que não encontrou tantos sinais de felicidade assim, tudo bem, mas, talvez seja a hora de mudar de rumo. Pra isso é preciso parar e olhar com calma e atenção pra bússola certa. A construção de um futuro brilhante começa com um hoje atento e, nesse caminho, a direção é mais importante do que a velocidade.
Quem faz essa confusão é a nossa mente que fica trocando de estação cerebral desgovernadamente e a única técnica capaz de sintonizá-la no dial certo é a meditação. Meditação não é relaxamento. É um estado de escuta alerta à sua voz interior.
Quando você pára, se acalma, respira e concentra, inunda todas as suas células com energia vital. Assim, tem a chance de encontrar um lugar confortável lá dentro. É lá, ou melhor, aqui, que você vai encontrar a tal da bússola personalizada que vai te levar na direção certa, no momento certo e na companhia certa – isso sim é LIBERDADE.
Meditar não é uma religião. Não requer um guru, um manto, um mantra, uma almofada especial. Qualquer um pode meditar sozinho num cantinho qualquer ou, se preferir, pode se juntar a um grupo que já tenha alguma experiência.
Pedir ajuda a alguém mais experiente pode ajudar a prática. Olhar de verdade pra dentro pode ser um pouco dolorido no início. Se você não é parte da solução, certamente é parte do problema e precisa compreender quais hábitos estão te mantendo nesse lado do campo.
Compartilhar essa experiência com um grupo pode ser confortante porque você vai ver que TODOS sofremos da mesmíssima forma...todos sentimos raiva, apego, ansiedade, medo e angústia só que uns disfarçam melhor do que os outros.
Como uma onda no mar.
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