Menta peruana, black mint. Tempero PANC. Ingredientes andinos.
Vida Saudável

Menta peruana, black mint. Tempero PANC. Ingredientes andinos.


Huacatay em beira de estrada.
Há algumas semanas tivemos um encontro comemorativo do aniversário da Horta do CCSP, aqui em São Paulo. Nele, tivemos a visita da Chef Paola Carosella, como já contei aqui.

Por acaso, ela me perguntou se eu sabia onde encontrar uma PANC chamada huacatay, que ela disse adorar pelo perfume único. Eu não conhecia, e logo descobri se tratar de um ingrediente andino, uma espécie de tagete ou cravo de defunto. Das fatos dos livros eu me lembrava, mas nunca tinha visto por aqui, uma pena.

Na semana seguinte, a caminho do sítio, à noite, vi uma planta incomum nascendo na estrada. Como tenho olhos treinados (risos), na hora percebi que era a primeira vez que via aquela planta. Fiquei com ela na cabeça. Marquei o local, e no dia seguinte, na volta pra São Paulo, fui correndo olhar que planta era aquela. Coincidência das coincidências, era a tagete que a Paola havia comentado! Huacatay andino nascendo em estradas esturricadas de Itu. Coincidências absurdas. E logo eu, que consegui identificar a planta no carro em movimento no escuro da noite - meus pais tem certeza que eu não bato bem da cabeça, pela alegria que vim no carro, esfregando a planta nas mãos e falando sem falar. 


Queria fotografas as flores desse, mas não alcancei.


Huacatay, no mínimo 1 metro maior que eu, que
não sou pequeno.
Seu nome científico é Tagetes minuta, uma planta presente praticamente no país inteiro na forma espontânea - é parente da tagete ou cravo-de-defundo, outra planta repelente muito usada em hortas pra repelir insetos prejudiciais. Já espalhei sementes entre os amigos e plantei algumas na horta. A planta é bonita, tem as folhas recortadas e as flores brancas, minusculas, em cachos pequenos. As que encontrei tinham seguramente mais de 3 metros de altura e eram pouco ramificadas, finas e compridas - o que é bom, porque não fazem muito sombreamento nas plantas do entorno. 

Flores minúsculas, folhas recortadas e aromáticas.
Procurando pelo nome andino, descobri que é um tempero muito comum na região do Peru e Bolívia, com o qual se fazem pastas, molhos, patês ou usa-se para tempero em geral. O sabor é intenso e não remete a nenhum tempero conhecido - tem um aroma que lembra hortelã, mas é completamente diferente. Eu gostei, embora tenha achado muito forte. Na linha do coentro, que se errar a dose, empesteia tudo. É rica em óleos essenciais, tendo uma composição peculiar: dihidrotagetona, b-ocimeno, tagetonona e tagetona, resultando num sabor que sabe a uma mistura de hortelã, coentro e mais o "ingrediente xis", que a faz única.

Aparentemente ela tolera ambientes secos e solos pobres, embora a literatura indica que desenvolva-se bem em solos férteis. Onde a encontrei era um solo pobre, duro, pedregoso de dar dó, e ela estava linda. A pena foi que estava velha e não consegui muitas folhas para testar uma receita grande. Mas hei de. Percebi que a folha depois de seca mantém seu forte aroma, então é uma boa planta para ter no armário.


Flores em grupos muito densos.

Ela fica cumpridona, pouco ramificada. Me identifiquei.
Paola, aqui está seu huacatay! Sim, ele nasce no Brasil.
Pelo visto, sem grandes exigências.
É usada tradicionalmente para temperar carnes, queijos e guizados. Com ela se faz salsas cremosas, condimentadas. Não testei grandes quantidades, mas há uma boa receita aqui: Eu não segui proporções, mas coagulei o creme de leite com suco de limão, misturando vigorosamente, então adicionei sal, pimenta, alho, azeite e um punhadinho de folhas picadas, porque era muito pouco pra bater no liquidificador. Fica bem aromático.

Há estudos diversos a respeito de seu potencial medicinal: anti-inflamatória, bactericida, alivia gastrites e indigestão, como coadjuvante no tratamento de febres e gripes - além de ser usada externamente como repelente. Por seu alto conteúdo de óleo essencial, ajuda a combater patógenos do solo, assim como ajuda a controlas solos infestados por nematóides. Aliás, ela também tem efeitos alelopáticos sobre outras plantas - é relatado que reduz o crescimento de raízes e a germinação de algumas espécies, então é bom plantá-la separadamente das demais ervas. Existem várias informações sobre isso clicando aqui.

Se um dia tiver a chance de prová-la, acho que ficará intrigado com o sabor. Ela é tão querida pelos andinos que é vendida até na forma processada, imagine só.





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