Deixa sem comer! Já ouviu isso?
Vida Saudável

Deixa sem comer! Já ouviu isso?


Bom dia pessoal

Quando temos um filho que "não come" (você já leu sobre isso por aqui!), buscamos ajuda em vários cantos: vizinhos, médicos, internet, amigos... e em algum lugar, recebemos o conselho:

"Deixa sem comer pra você ver se não resolve!"

Ai os pais tentam - o quanto aguentam, claro. Por que essa frase, tão simples, é carregada de significados e sensações para os pais dos picky eaters (nome utilizado hoje, para definir as crianças que não comem). Vai ficar sem comer? Até quando? Vai ficar doente se não comer? Vai sofrer? Meu Deus, esse menino está sem comer há 7 horas e 35 minutos!
Calma. Respira. Vamos falar um pouco desse "deixar sem comer"?

Na verdade, esse é um bom conselho. Utilizamos o 'deixar sem comer" para favorecer o apetite. O maior tempero é a fome. Se a criança não tem um espaço de tempo entre as refeições sem comer nada (nem suco, nem fruta, nem bala- nada!- apenas água), o apetite não vem, jogamos contra nós mesmos, somos nossos próprios sabotadores. Por isso, se você quer auxiliar seu filho a comer melhor, determine horários para refeições (café da manhã, almoço, lanches, jantar), cuide para criar um espaço entre elas, de 3 a 4 horas, e sirva comida apenas nesses horários pré-estabelecidos. Isso é uma manobra para facilitar o apetite, mas todas as crianças deveriam comer com intervalos regulares de tempo, e não beliscar o dia todo...

Mas deixar sem comer não pode ser visto como um castigo, do tipo: "olha filho, se você não comer, não vou te dar NADA!"; "se não comer, vai ficar sem comer O DIA TODO"; " se não comer, só vai ter esse prato de comida para você comer o dia inteiro".
Tem que ser visto como simples e pura regra da casa:

"Não está com fome? Tem certeza, está satisfeito? Por que o lanche só será servido às 15 e até lá, você pode ter fome.
Tudo bem, filho."
(arghhhh por dentro.. tudo bem nada... mas repita o mantra: preciso ser neutra(o), preciso ser neutra(o))

Se você o ameaça, o coage, voltamos a estaca zero, a refeição sem prazer, com medo, com insegurança. A mensagem é: você tem um mau comportamento, você não come e por isso, será punido. Vamos tentar nos colocar um pouco no lugar da criança. Eu acredito que a criança tem sim, vontade de comer. Mas a menor tensão nesse momento cria uma angústia que destrói qualquer pequeno apetite.

Se você respeitou a decisão do seu filho, pulamos uma refeição. Mas ainda não acabou. Aquelas pequenas mãozinhas vão atrás de algo para comer, já que a última refeição foi insuficiente, e a barriga começa a reclamar. Agora, é a hora do limite. Sem brigas, sem entrar em discussão, mas com firmeza. "Filho, agora não é hora de comer. Às 15 horas vai ser servido o lanche, faltam 2 horas. Vamos fazer outra coisa?". E ele reclama, chora, diz que está com fome. E você, fica firme o relembra: você sente fome agora por que não comeu o suficiente na última refeição. 

Se você serve algo logo após, envia uma mensagem dúbia. E seu filho apenas responde à essa mensagem. Se os pais entregam a mamadeira (ou outro alimento) em uma situação assim, dizem para a criança que isso é ok. A criança entende que, se as pessoas que ela mais ama e que "sabem de tudo", entregam a mamadeira com um pouco mais de choro ou reclamação, tomar essa mamadeira é ok. Ela entende que pode comer, mas se preferir, pode tomar a mamadeira, ou outro alimento já conhecido. A criança não faz chantagem, é resposta à mensagem. Ela responde que prefere a mamadeira. Mas precisamos, como pais, entender que faz parte do nosso trabalho apresentar desafios, alimentos novos, sabores novos. E o desafio e o aprendizado também vem do limite, com carinho. Explicar que não vai comer porque não está na hora, e que, mais tarde, a criança poderá comer.


E na hora do lanche, sirva o lanche. Se você servir o prato de comida requentado, vai induzir seu filho ao prazer de comer? Ou vai parecer um castigo, uma punição, já que o restante da família está tomando um lanche? Mas, Karine, assim ele mata a fome no lanche. O pulo do gato está em determinar o que servir (você decide, lembra?) e as porções. Pequenas porções para não atrapalhar a fome da próxima refeição. Para forrar o estômago, e não para matar a fome.

Deixar sem comer não é castigo, não é punição, não é ameaça. Deixar sem comer não é tortura com o mesmo prato mil vezes. Deixar sem comer, na verdade, não é deixar sem comer. É respeitar horários, é não permitir beliscos fora de hora, é ajudar seu filho a ter fome nos momentos certos, é para todas as crianças, e não apenas para a criança que não come, é ter comida no café da manhã, no almoço, no lanche, no jantar, e sim, ter a sobremesa, mas no momento adequado, e respeitar a negativa do seu filho.

Eu sei, não é fácil. Na verdade, é bem difícil. O resultado é lento. Mas é recompensador. O intuito aqui é melhorar a dinâmica familiar, é trazer o prazer para a mesa, é tratar um picky eater com o carinho, atenção e o limite que ele deve ser tratado.

Afinal, já dizia o ditado: "barriga cheia, goiaba tem bicho!"



Até mais!



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