Quando dizer não é difícil
Vida Saudável

Quando dizer não é difícil


Todos os dias, recebo e-mails, mensagens e comentários. Vários assuntos. E ultimamente, muitos com o assunto: meu filho está acima do peso. Por diversas vezes, o e-mail termina assim:

“ E ele( a criança) não entende e continua pedindo, implorando que quer guloseimas. Como fazê-lo entender que ele não pode”?

Respondo agora para as mães: o ideal é você dizer convicta, não, algumas vezes. Ele vai continuar pedindo. Mas ele nunca pode? Guloseima tem hora para comer. E você vai explicar isso pra ele. Possivelmente, seu filho não tem capacidade cognitiva para entender e simplesmente, parar de pedir. E você que o guiará nesse caminho.

Mas porque falar não, às vezes, é  tão penoso? Experimente dizer não 30 vezes por dia, e se verá louca para soltar um sim. Não queremos ser chatos. Queremos, como pai, ser amados. Queremos agradar. E falar não toda hora...

Mas claro, está no pacote, é necessário. Para a felicidade dos pequenos, é FUNDAMENTAL. E se entendermos o porquê dessa dificuldade, pelo menos no âmbito da alimentação, talvez fique mais fácil ter a segurança definitiva para falar o não necessário com segurança.
Por que afinal, é tão difícil?

Você não está convencida (lá no fundo) que realmente precisa:
O pediatra disse, alguém já comentou. A barriguinha do seu filho está um pouco maior que dos amigos – pode ser genético ou a estrutura dele, não? – você se pergunta. Acha que a infância é curta demais, e que é injusto limitar guloseimas e que, quem sabe, na época do estirão, tudo se resolve. Vez ou outra, sente-se culpada por conta da liberação excessiva (?) de indulgência, e proíbe alguns dias. Mas depois, libera geral novamente.
Se tem dúvidas se esse é ou não o caminho, converse. Se informe. Peça para a nutricionista ou o pediatra explicar, tim tim por tim tim aquela curva de crescimento que eles apontam pra você. E a verdadeira real, o quanto é grave? O quanto preciso me preocupar? Isso passa? Cada criança é uma criança, e deve ser tratada como tal.

Você sente culpa
Ahh a culpa materna/paterna! Parece que, em maior ou menor grau, um dia chega para nos assombrar. Você trabalha o dia todo ou cuida de mil coisas o dia todo. Você sai, e quando volta, acredita que alguma coisa pode compensar sua falta, um mimo, um presentinho. Sua criança está sentindo saudades e quer brincar, conversar, quando você precisaria de um minutinho para você – ou, pior, quando você chega, está caindo pelas tabelas de sono. Quando estão juntos, finalmente, é uma festa. Se divertem, brincam. E seu filho pede a guloseima. Você acha que ele merece. E libera, também, com um pouco de culpa. Afinal, quando e quanta  guloseima é demais?

Você recebeu diversos nãos quando criança e agora quer compensar
Quando criança, você via crianças comendo o que você gostaria de comer. Em excursões, escola, parque, sua curiosidade por aquela caixinha, chiclete, doce ou qualquer coisa era grande. E lá, em casa, era limitado. Quando você visitava um amiguinho, os hábitos eram diferentes. Daí você cresce, tem sua própria família. E você quer suprir tudo o que seu filho deseja, quer que ele seja feliz. Aí, coloca em casa o famoso canto da guloseima. No começo, tudo era festa. Agora você percebe que seu filho está engordando demais, está seletivo com a comida, o apetite pro almoço diminuiu e pras guloseimas, aumentaram. E agora?

Você não consegue dizer não para si mesmo
Você conhece de perto o problema do controle alimentar. Já fez ou faz dieta, e intercala comendo guloseimas. Se sente culpada por comer, eventualmente se sente feliz quando consegue não comer, se sente faminta no final do dia. Vez ou outra, pula uma refeição em busca de um corpo mais bacana, mesmo que já ouviu falar que isso não é bom pra saúde. Sua relação com comida não é saudável, você percebe. Aí, seu filho cresce. E quando ele começa a comer e pedir a mesma comida da família, os armários são recheados com aquilo que você come mas que, no fundo, não gostaria de comer sempre. E quando come, seu filho está lá, assistindo. Como dizer não para ele, se não consegue dizer não para si mesmo?

Você não saber medir o quanto dizer não
Você entendeu o problema. Precisa começar a dizer não para a comida de vez em quando. Colocar horários, regras, rotina. Pensa: se eu tivesse informação antes, provavelmente não passaria por isso. Já enfrentou o período de negação, de culpa, de planejamento, e está preparada para ajudar seu filho, da melhor maneira. Mas dizer não o tempo todo é saudável? Qual a medida certa para não ser um ditador? Será que meu filho vai se traumatizar? Será que, dizendo não, não reforço esse estereótipo que só magro é bom? Será que ele pode passar vontade? E quando ele chorar, o que eu falo? Será? Será? Será? (Nada como conversar com seu nutricionista de confiança para responder, juntos, essas questões)



Quando nós, pais, entendemos melhor o que esse possível controle significa na nossa vida, conseguimos caminhar melhor. Quanto mais segurança tivermos na decisão do não, mais fácil para a criança. Quanto mais assertivos forem nas recomendações e no exemplo, melhor para o nosso filho. E o não não é para classificar alimentos. É para dizer, não, não está na hora de comer agora. Espere a hora do lanche/almoço/jantar.

As crianças nos surpreendem demais. São seres incríveis, que respondem às nossas mensagens. Ou você não percebe que seu filho faz o mesmo pedido, de maneiras diferentes para diversas pessoas? Se você não tem a segurança do não que está dando, seu filho percebe. E pode lutar contra.

Vez ou outra sou presenteada com uma história que confirma minhas convicções. Às vezes, determino, junto com a mãe, os dias das indulgencias, das “porcarias” a serem consumidas. Por que, vamos combinar, com criança maior, faz parte! Uma menina fofa, de 4 anos, recebeu um pirulito do garçom, em uma comemoração, e disse: obrigado, mas hoje não é quarta-feira! (Quarta é o dia que pode comer o "docinho", ela sabe). Simples assim.


O texto foi longo. É que o assunto é profundo. Se precisa de ajuda, peça. Avalie qual será seu caminho. Uma nutricionista pode te ajudar, um pediatra, um psicólogo. Mergulhe no caminho da confiança do não – como tudo que demanda mudança, é um pouco difícil. Mas muito recompensador. A saúde das nossas crianças é o melhor bem que deixamos à elas. 



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