Vida Saudável

Consumir ou não antioxidantes em cápsulas

Com certeza ao ir à uma farmácia você já se deparou com uma infinidade de opções de antioxidantes em capsulas. E ao ver estas opções você pensou: se os antioxidantes são bons, porque não consumi-los na forma de cápsulas? Essa é uma pergunta feita frequentemente, mas que ao contrário do que imaginamos o consumo de antioxidantes em capsulas pode não ser tão bom assim ...

Antes de começar a explicar porque você deve eliminar as capsulas de antioxidante da sua prateleira e substitui-las por frutas e vegetais vamos entender melhor o que são os antioxidantes e como eles agem.

Nossas células produzem a todo momento radicais livres. No entanto, alguns fatores tais como, alto consumo de alimentos ricos em gordura trans, produtos industrializados, consumo de álcool, tabagismo e exposição excessiva ao sol podem aumentar a produção dos radicais livres. O aumento excessivo destes compostos pode ser extremamente prejudicial ao nosso organismo, pois estes podem danificar o nosso DNA e com isso desencadear diferentes tipos de câncer, além de estarem envolvidos no desenvolvimento das doenças cardiovasculares, diabetes, doenças neurodegenerativas e obesidade.

Mas, nosso organismo está sempre a postos para eliminar estes radicais. Nós possuímos diferentes enzimas que são responsáveis pela eliminação dos radicais livres, possibilitando que nosso corpo funcione normalmente. No entanto, quando estes radicais estão em excesso precisamos da ajudinha de outros compostos antioxidantes, os quais podem então ser adquiridos pela alimentação. Dentre as principais alimentos ricos em antioxidantes podemos destacar as frutas tais como morango, mirtilo, romã, laranja, maça, acerola, manga, uva, tomate, caju, kiwi, amora, açaí jabuticaba e vegetais como por exemplo brócolis, couve, tomate, cenoura, rabanete, alho, abóbora e espinafre.

Baseado nos estudos posteriores que comprovavam que pessoas que consomem vegetais possuem menor risco de desenvolvimento de câncer de cólon e doenças cardiovasculares, em 1981 um grupo de cientistas propuseram a criação de um suplemento nutritivo para combater os radicais livres, sendo este rico principalmente em beta-caroteno (presente em grandes quantidades na cenoura). No entanto, de acordo com estes pesquisadores a interação entre os radicais livres e os antioxidantes é extremamente complicada e também equilibrada, sendo que quando existe o excesso de ambos os compostos o sistema entra em desequilíbrio acarretando consequentemente em danos. Dessa forma, foi possível observar que consumir antioxidantes em grandes quantidade pode não ser tão benéfico assim para o nosso organismo.

Interessados em desvendar qual era o real efeitos dos suplementos de antioxidantes no nosso corpo, outros pesquisadores passaram a estudar esta relação. Foi então que em 1980 dois estudos foram iniciados, um em Seattle, nos Estados Unidos, e um na Finlândia. O estudo desenvolvido nos Estados Unidos contou com a participação de cerca de 18000 homens e mulheres. Estes participantes foram distribuídos em dois grupos: um grupo recebia o beta-caroteno isolado na forma de cápsula e o outro grupo recebia um capsula sem nenhum compostos bioativo, o que chamamos de grupo placebo.

A proposta inicial deste estudo era acompanhar os participantes durante um período de 10 anos e que os participantes que consumissem as capsulas com beta-caroteno deveriam apresentar um risco significativamente reduzido na incidência de câncer de pulmão. Porém, os pesquisadores tiveram uma surpresa!! Ao contrário do que esperavam, o grupo que recebeu as cápsulas com antioxidante apresentou aumento expressivo nos casos de câncer de pulmão e o estudo precisou ser interrompido antes do fim dos 10 anos!! Os pesquisadores afirmaram que os estudos feitos na Finlândia também apresentaram resultados semelhantes.

Uma observação importante feita pelos pesquisadores de ambos os estudos foi que a quantidade de beta-caroteno consumido pelos participantes era bem maior do que a quantidade deste composto que conseguimos consumir tendo como base apenas a nossa alimentação.

A partir destes estudos, pesquisadores de diferentes lugares do mundo passaram a se preocupar com a relação entre o consumo excessivo de antioxidantes e o risco do desenvolvimento de câncer. Foi então, que em 2007 publicou-se um estudo que reunia a avaliação de 68 pesquisas em que homens e mulheres consumiam qualquer tipo de antioxidante em cápsula. Os resultados não foram diferentes, segundo este estudo o consumo do suplemento aumentou o risco de morte em 5%.

Diante de todas estas evidencias podemos para e penar na seguinte frase: “se um pouco é bom, mais deve ser melhor”. E a resposta claramente é NÃO. É importante ressaltar que a maioria destes suplementos apresentam doses até 10 vezes superior ao que realmente necessitamos.

Então, não se esqueçam, vale muito mais a pena comprar diferentes frutas e vegetais e consumi-los de forma regular, pois estes sim poderão fornecer a quantidade de compostos antioxidantes ideais ao nosso corpo. Além disso, é importante destacar que estes alimentos possuem outros compostos que desempenham funções importantes no nosso organismo e que a combinação de todos estes compostos atende perfeitamente ao que precisamos!

Patrícia Bachiega

Farmacêutica-UFMT

Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos

Sob orientação: Profª. Drª. Jocelem Mastrodi Salgado

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