Vida Saudável
Os Matos de Comer: As PANC's - Parte 1
A primeira vez que eu ouvi falar de "plantas alimentícias não convencionais" foi num programa de televisão. Acho que era uma reportagem no Globo Rural, falava da tal da Ora-pro-Nobis. Fiquei com esse termo na cabeça, porque falavam das panc's pra lá, das panc's pra cá.
Vamos do começo. PANC é uma sigla para Planta Alimentícia Não Convencional. Esse termo foi cunhado em 2004, pelo pesquisador Valdely Kinupp, em sua tese de doutorado. Desde então, essa terminologia vem sendo abertamente aceita, e são recorrentes os trabalhos usando esse conceito. Ele abrange tanto as hortaliças cultivadas (como o cará moela, a araruta e o feijão mangalô) quanto as selvagens (alho selvagem, taioba, picão). Também inclui as plantas nativas e plantas trazidas de fora, chamas de exóticas.
Dessa forma, o termo PANC's é extremamente abrangente. O critério para considerar uma planta uma panc é subjetivo: ser comestível, não ser cultivado em escala comercial, não ser consumido frequentemente pela população em geral, não ser comercializado. Eu incluiria aqui um fator cultural de cultivos "negligenciados", cuja negligência pode ser gerada por desconhecimento, por preconceito, pela dificuldade de obtenção, pela falta de conhecimento de cultivo e preparo, pela dificuldade de produção em grande escala, pela oferta de outros alimentos de fácil obtenção.
Por desconhecimento, a primeira razão, é simplesmente não saber que aquela planta é útil e comestível.
Por preconceito, é achar que uma planta espontânea é um "mato", "daninha", e não um alimento. Ou ainda, que é comida de "desesperado", de "pobre". Um exemplo disso é o consumo de arroz no sudeste, que cresceu enormemente no passado a despeito do uso da farinha de trigo. A farinha de mandioca era coisa de pobre, de índio. O arroz era coisa de europeu, de civilizado. Isso aconteceu com nossos grãos nativos, frutas, raízes, ervas...
Pela dificuldade de obtenção, tomemos o exemplo do Baru. É uma castanha originária do cerrado, uma semente de uma árvore que demora anos para frutificar. E a safra não é todo ano. E as castanhas vem dentro de uma casca muito dura, que precisa ser quebrada com técnica. A árvore não produz anualmente. E apenas se colhem os frutos caídos do chão. Como garantir a produção em larga escala, ao longo do ano, atendendo as demandas de consumo?
Pela falta de conhecimento e preparo, podemos citar diversos grãos, alguns tipos de mandioca, ou ainda plantas que são venenosas quando cruas, mas comestíveis quando cozidas. Porque nem todas plantas venenosas deixam de ser venenosas depois de sair da panela. Outro desconhecimento pode ser em relação ao que já conhecemos. Como assim? A batata doce não é uma PANC, certo? Contudo, não só as batatas são consumidas. As folhas podem ser comidas como verdura, espinafre, mas alguém consome? Vende em algum lugar? Provavelmente, não. Então, a batata doce não é uma PANC, mas suas folhas entram na categoria. E agora?
Pela dificuldade de produção em larga escala, podemos pensar num fator próprio da planta. Por exemplo, temos diversos tipos de arroz nativos, mas só consumimos o arroz de origem asiática. Isso, porque nossas plantas de arroz não foram selecionadas para florir e produzir todas ao mesmo tempo: como colhe-se em grande escala, se algumas plantas estão maduras, outras ainda florescendo?
Pela oferta de outros alimentos, algumas frutas e verduras são deixadas de lado simplesmente porque é mais fácil ir na feira e comprar as plantas e frutas de sempre: alface, couve, repolho, tomate, cenoura...
Ah, o que mais? O Termo PANC'S inclui não só verduras, mas frutos, sementes, castanhas, raízes, temperos, plantas fontes de óleo, de sal, de corante, de adoçante...Ou seja, é um termo bem genérico.
Existe o termo Hortaliças Não-Convencionais, um termo um pouco mais antigo, da década de 90, referente a plantas comestíveis na forma de hortaliças: brotos, folhas, ramas. Ou seja, é um termo já mais específico.
E pesquisando sobre Hortaliças Não-Convencionais, descobri que as antigas culturas meso-americanas tinham um termo específico para isso.
Vou contar sobre ele na próxima postagem, Parte 2.
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