Vida Saudável
O parto e a nutrição
Bom dia pessoal!!
O dia do nascimento, tão glorioso e inesquecível dia para muitas e muitos. Esperado, planejado... o que seria o ápice da gestação, às vezes é renegado a pouco tempo de estudo e/ou pesquisa. Afinal, a criança tem que sair de qualquer jeito, não?
Não vou me ater a discussões sobre partos, apesar de ter já uma opinião fortíssima sobre isso (#nãoviolênciaobstétrica). Quero me ater ao que engloba meu escopo de trabalho como nutricionista. A nutrição, sobretudo da criança (que afinal, é de mega importância para todos, absolutamente todos os envolvidos nesse parto).
Sabia que algumas coisas simples, muito simples, podem fazer uma diferença enorme nesse pequeno quesito? E que todas essas coisas simples, você pode sim, pedir para que sejam feitas no seu caso (independente se uma cesária for realmente necessária ou se acontecer um parto normal)?
Vamos por partes:
1- Corte ou campleamento do cordão umbilical:
O que é um minuto pra você? Pouco tempo, muito tempo? O que dá pra fazer em um minuto?
Para iniciar esse pequeno papo, gostaria de reforçar a vocês que cerca de 20% das nossas crianças brasileiras estão anêmicas. Que isso é problema de saúde pública, que pode influenciar no desempenho cognitivo, no crescimento, na saúde em geral das nossas crianças. Que o atual sistema de saúde faz várias manobras, e gasta dinheiro (que também é seu dinheiro, a grana dos impostos) para tratar essa mazela que parece não ter a solução ideal.
Sabe aquele um minuto descrito lá em cima? Estudos brasileiros e da gringa comprovam, que, se você esperar 1 ou 2 minutos para cortar o cordão umbilical pós nascimento, uma quantidade de Ferro favorável é passado da placenta para o bebê, evitando anemia futura. Nutrição pura, saúde pura, muitas vezes deixada de lado.
Essa é uma ação gratuita, só precisamos de tempo. Um tempo que importante pra essa criança.
Alguns profissionais creem que essa atitude pode não ser tão necessária assim. Mas os estudos afirmam: o normal deveria ser esperar um pouco para cortar o cordão umbilical. Poderiam existir as exceções, mas essa deveria ser a regra.
Se quiser dados científicos, no final desse post estão lá, algumas referências.
Sabe o que eu acho engraçado, pessoalmente? Essa técnica de esperar um pouco, é chamada "campleamento tardio". Tardio para um ou dois minutos? Que pressa, não?Profissionais, deixem esse bebê ficar no colo da mãe enquanto espera esses minutos preciosos, ação que entramos no próximo item...
2- Amamentação na primeira hora ou meia hora de vida:
O bebê nasce desperto, logo depois, fica cansado.
Quando ele nasce, está preparado para mamar. E a amamentação na primeira hora de vida poderia evitar, anualmente, mais de 1,3 milhão de mortes de crianças menores de 5 anos nos países em desenvolvimento (tipo Brasil, sim, independente da maternidade chique que foi escolhida).
Sabe outra coisa, importantíssima? Você, que é mãe, e vive nas rodas de conversas, virtuais ou não, já ouviu um relato de uma mãe que por qualquer motivo, não pode ou não conseguiu amamentar. Essa mamada "precoce" (só que não) aumenta as chances dessa amamentação dar certo, o que evitaria choro, sofrimento e desmotivação por parte de algumas mães e alguns bebês.
3 - Alojamento conjunto e portanto, muita proximidade com o bebê
Vamos nos questionar agora, um pouco. Vamos sair do comodismo, do lugar comum, e vamos questionar não aos nossos próximos, mas sim, ao nosso coração. Agora falo principalmente com as mulheres, e isso não significa sexismo, e sim, falando com as minhas iguais, poderosas, empoderadas mães queridas.
Eu sei que você estava louca pra conhecer seu filho. Que você está feliz por que ele nasceu, (independente de um baby blues) e está vivenciando muitas coisas novas, tudo é incrível. E dentro desse rebuliço, eu te pergunto:
- Lá no fundo, o que você gostaria não é poder ficar com ele, grudados? Ver o rostinho, sentir o cheirinho, aproveitar pra ficar com ele?
Por que afinal, deixamos levar nossos bebês para um berçário onde ele está lá, longe da gente? Realmente, isso faz sentido pra você? Ficar longe do maior presente que você recebeu na vida, naqueles primeiros momentos de vida? Qual é a função, portanto, do berçário? Deixar a mãe descansar? Ora, se o bebê dormir ao seu lado, você também não descansa? Qual colo esse bebê quer, da mãe, velha conhecida nos cheiros, voz, aconchego, ou de uma enfermeira, por mais bem preparada e bem intencionada que seja?
Bom, mas aí eu ouço: acabei de parir, preciso de descanso. Você pode receber ajuda para banhar o bebê, levá-lo ao colo, mas não seria melhor que ele permanecesse a maior parte do tempo ao seu lado?
Esse paradigma não tem fundamento só em relação à só o que pede o nosso coração, e sim, também um quê de explicação científica.
Sabe aquele remedinho que recebemos para espirrar no nariz para ajudar a descer o leite?
Você, mulher, produz esse hormônio, em quantidades maravilhosas e eficientes. Basta um gatilho, um estímulo. E o estímulo é a proximação com o seu filho. Simples assim. Quanto mais colo, mais proximidade, maior a frequência de mamadas, mais leite você terá. Novamente, mais barato, mais natural, menos dispendioso inclusive para a saúde pública.
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Esse contato, pele a pele, pele do bebê com pele da mãe, ajuda na liberação da ocitocina, hormônio que está envolvido com a amamentação, e ao mesmo tempo, ajuda a diminuir hemorragia materna. Mais leite pra bebê, menor chance de anemia pra mãe. Obrigada querida Clio, por disponibilizar essa foto desse momento tão lindo! |
E, aliás,quando o bebê fica com você diminui aquele risco do bebê receber fórmula infantil no hospital , sem o seu consentimento(e aí atrapalhar a amamentação, aumentar risco de alergia..). Mas esse assunto eu deixo pra outro post..
Mães, todas essas situações descritas independem de muita coisa, e dependem muito, da sua vontade. Faça um plano de parto e coloque esses simples pontos nele. Converse com seu médico, com quem a acompanhar no parto, faça sua vontade valer. Como eu falo aqui, o empoderamento nos leva muito, muito longe. Inclusive a melhorar a saúde brasileira - essas são medidas possíveis à praticamente todas as mulheres brasileiras (quiçá do mundo).
Beijo cheio de carinho com ocitocina natural.
Algumas referências sobre o campleamento (só clicar no link): VENANCIO, Sonia Isoyama et al. Efeitos doclampeamento tardio do cordão umbilical sobre os níveis de hemoglobina eferritina em lactentes aos três meses de vida. Cad. Saúde Pública [online]. 2008, vol.24, suppl.2
Van Rheenen PV, Brabin BJ.Late umbilical cord-clamping as an intervention for reducing iron deficiencyanaemia in term infants in developing and industrialized countries: asystematic review. An Trop Paediatr 2004; 24:3-16
GREER, Frank R.. Orientação dietética para a prevenção da anemia por deficiência de ferro em lactentes no Brasil: é preciso algo mais. J. Pediatr. (Rio J.) [online].2012, vol.88, n.1
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