Tiririca: praga gourmet
Vida Saudável

Tiririca: praga gourmet


Quem nunca cuidou de horta não sabe a dor de cabeça que é a tiririca. Começa com umas folhinhas verdes, com cara de capim. Daí você vai, arranca, e algumas semanas depois, no mesmo lugar, nascem outras, várias. Que você arranca, e mais surgem, num ciclo sem fim. Sentimento herculeo de cortar a cabeça da Hidra.

Primeiro, vamos definir de quais tiriricas estamos falando. Além do político bonachão, claro. Existem diversas tiriricas nascendo mundo afora, e para nossa sorte, duas bem comuns no Brasil são comestíveis. Na realidade, elas dão batatinhas comestíveis.

A primeira tiririca que eu quero te apresentar, da família cyperaceae (parente do papiro e da priprioca) é a Cyperus esculentus. Não tem folhas comestíveis, e o tesouro fica bem guardado: ela tem pequenas batatinhas com gosto de avelã. Talvez amêndoa. Deliciosas, divinas, soberbas. Quem provou sabe, e nunca imagina que uma planta tão comum esconde o ouro desse jeito.

Na espanha, é conhecida na região de Valencia como "chufa", onde é batida com água até formar um leite, um milkshake vegetal saborosíssimo chamado orchata de chufas. As batatinhas são encontradas para vender em sacos, por quilo. Por aqui, não tão fáceis de encontrar prontas, mas você pode caçar as suas. E mesmo que não tenha o suficiente para litros de orchata, elas são crocantes e deliciosas e podem ser consumidas cruas ou secas, como castanhas.

Chufas prontas pra consumo.
No Brasil, ocorrem duas espécies mais comuns: Cyperus esculentus e Cyperus rotundus, ambas com batatinhas comestíveis. A diferença é que a C. esculentus tem gosto bom, e a C. rotundus tem gosto de capim.

Pra identificar é bem fácil. As folhas partes do solo, e no meio delas, surge uma haste de caule triagular, que dá umas "flores" na ponta. Ok, não são bonitas, não parecem flores, mas sim, são flores muito simples e especializadas. Esse é o jeitão dela. Existem diversas espécies de Cyperus parecidas, então você vai ter que olhar na internet pra tentar diferenciar. Na dúvida, cave, colha e prove - venenosas não são, e se for a espécie errada, as batatinhas não serão gostosas.


Cara de capim embaixo, caule triangular, flores em cima. Praga.

Não são exatamente flores, mas deu pra entender?
A parte comestível são as batatinhas, que nascem na ponta da raiz. Diferente da cenoura, por exemplo, que nasce colada as folhas, as batatinhas da tiririca nasce na ponta das raízes. Então, se você arrancar a planta e não cavar, sai caule, sai raiz, mas as batatinhas ficam na terra. E rebrotam. Assim que a planta vai enganando o jardineiro, o hortelão: você arranca uma, nascem várias. Então, sair coletando vai exigir cavocar o jardim inteiro atrás das batatinhas. Há um jeito mais fácil de fazer isso: plantando em vaso. Você só precisa de uma batatinha.

Use uma terra solta, escura, sem pedras, talvez até arenosa - facilita na colheita. Plante uma ou duas batatinhas e aguarde formar a planta. Ela vai crescer, florescer e passarão meses. Arranque as flores e descarte. Depois que a planta amarela e seca, no começo do outono, hora da colheita - e você terá muitas, muitas batatinhas para colher. É só virar o vaso e sair espalhando a terra. Cada uma plantada rende outras vinte, ou mais. Quando mais sol sua planta tomar, maiores as batatinhas. A minha tomou pouco sol e as batatas ficaram pequenas.

Plantei apenas uma batatinha
que achei,  num vaso pequeno,
mas produziu bem. Consegue ver?

A colheita. Só secar bem a sombra, e guardar.
Por anos, talvez. Depois de secas,
o sabor melhora muito.
Boa notícia: ao colher as batatinhas, você reduz a infestação na horta. Em geral, solos bem manejados, soltos, férteis, cheios de matéria orgânica, são ruins para a tiririca, então ela morre. Muitas tiriricas indicam que seu terreno precisa de mais cuidado e matéria orgânica. Legal, né?

Mas o terror das tiriricas ainda não acabou. Na próxima postagem, outra tiririca, mas bem diferente da chufa. O mais legal? Tem sabor parecido com batata-frita. Até a próxima!

GUIA DE IDENTIFICAÇÃO
Cyperus esculentus. Planta herbácea, anual, de até 40cm de altura, muito prolífica. Folhas finas, compridas, pontudas, saindo todas da mesma base. Aste floral alta, com parte reprodutiva cor de palha/marrom. Batatinhas profundamente enterradas, sabor amendoado e doce.

LOCAL DE OCORRÊNCIA
Locais abandonados, solos com pouco manejo, pobres em matéria orgânica, a pleno sol.

MODO DE PREPARO
Batatinhas, cruas ou secas a sombra, in natura ou batidas com água.




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