Vida Saudável
Pimenta rosa e a doença de Alzheimer
A pimenta rosa é fruto de uma Anacardiaceae, família botânica que compreende cerca de 700 espécies, muita das quais frutíferas, exemplos são a manga e o caju. O nome científico da pimenta rosa é Schinus terebinthifolius, também conhecida popularmente como “aroeira da praia”, “aroeira negra”, “aroeira vermelha”, “aroeira de Minas” e “cor-neiba”.
Devido à sua semelhança anatômica, a pimenta rosa é muitas vezes confundida com um tipo de pimenta do reino (Piper nigrum). Outras características como uso comum na culinária, sabor pungente e a comercialização a granel sob a forma desidratada, também reforçam esta similaridade. Por isso, fique atento no supermercado!
O gênero Schinus é nativo da América do Sul e está principalmente distribuído pela costa brasileira desde o nordeste ao sul do país. Dentre as espécies mais abundantes está à pimenta rosa. Representantes desta espécie também podem ser encontrados em outros países e continentes com clima semitropical e tropical como África, Oceania e Estados Unidos.
Atualmente, a exploração da pimenta rosa está restrita a colheita manual de árvores naturalmente ocorrentes na região, principalmente nas áreas de restinga do litoral brasileiro. No entanto, a pimenta rosa tem sido amplamente requisitada pela culinária internacional, principalmente a francesa, fato que tem ocasionado considerável aumento pela demanda destes grãos na indústria de especiarias. No Brasil, o consumo de pimenta rosa está sendo difundido apesar de incipiente.
O fruto de S. terebinthifolius contém óleo essencial que propicia aos grãos flavor suave e levemente picante. O condimento seco ou triturado é utilizado em diversas preparações culinárias seja para condimentar carnes, salames e massas, ou conferir exoticidade a bebidas e doces. São utilizados ainda na confecção de xaropes, vinagres e vinhos. Em alguns países são utilizados como substitutos ou adulterantes da pimenta preta (Piper nigrum).
Durante os últimos anos, um número crescente de pesquisas têm demonstrado uma grande variedade de metabólitos secundários na família Anacardiaceae, tornando-a uma candidata promissora na procura por substâncias bioativas naturais. De fato, na medicina popular, as folhas, cascas e frutos da aroeira vêm sendo utilizadas há séculos como anti-inflamatório, antipiréticos, analgésicos, hemostáticos e agentes depurativos. São ainda utilizados no tratamento do reumatismo, diarreia e doenças do trato gastrointestinal, úlceras dérmicas, gengivite, doenças venéreas e inflamações uterinas e do trato urinário. Existem ainda relatos de sua ação antifúngica, antibacteriana e antialérgica.
Apesar de seu emprego ser disseminado na medicina popular e crescente uso na culinária, pouca atenção vem sendo dada a esta espécie do ponto de vista farmacológico. Os poucos estudos existentes têm apontado os polifenóis (grupo de compostos químicos com atividade antioxidante) como responsáveis pelas propriedades farmacológicas. Os mesmos encontram-se distribuídos desigualmente por todos os órgãos vegetais, como a casca, folhas, flores, frutos e semente.
Uma pesquisa recente (2014) realizada pelo nosso grupo de pesquisa, o GEAF, buscou avaliar o potencial desta especiaria sobre a doença de Alzheimer (DA). Dentre os parâmetros utilizados pela pesquisa foram quantificados tanto a atividade anticolinesterásica como a antioxidante. Para melhor compreensão, discutiremos nos próximos parágrafos um pouco sobre a DA.
A doença Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que progressivamente altera a memória e as habilidades cognitivas. A patologia inicia-se silenciosamente e se agrava com o passar dos anos, prejudicando até mesmo o desempenho de tarefas corriqueiras.
A principal forma de tratamento da DA é através de inibidores sintéticos de acetilcolinesterase. A ação da droga consiste em impedir que a acetilcolina, neurotransmissor envolvido na retenção de memória e aprendizagem, seja degradada pela acetilcolinesterase. Os inibidores de acetilcolinesterase existentes no mercado além de terem um custo relativamente elevado, e apresentarem efeitos colaterais não previnem ou curam a DA, apenas retardam o seu desenvolvimento.
Diversas pesquisas vêm demonstrando que dietas ricas em alimentos antioxidantes podem reduzir a incidência da DA ao impedir e/ou neutralizar os efeitos danosos dos radicais livres. Não obstante, alimentos podem ainda atuar como um aliado no combate a progressão da doença ao conter em sua composição fitoquímicos com atividade anticolinesterásica. Dessa forma, investigar a atividade anticolinesterásica em pimenta rosa, bem como seu potencial antioxidante e composição fitoquímica são maneiras de promover tanto o conhecimento sobre esta especiaria como beneficiar o panorama de saúde pública, seja no combate a DA e/ou outras pandemias existentes.
Os resultados obtidos pela pesquisa foram promissores, a pimenta rosa foi capaz de inibir a enzima (acetilcolinesterase) bem como apresentou níveis elevados de antioxidantes, podendo, no futuro, vir a ser uma poderosa aliada no combate a esta doença.
Sim, no futuro! Afinal, para a descoberta de novos compostos ou alimentos com potencial para reduzir o risco de incidência de Alzheimer ou outras doenças, o primeiro passo a ser dado é a avaliação do seu desempenho em análises in vitro. Dessa forma, estes testes foram os primeiros passos dessa pesquisa, sendo necessários mais estudos (em animais e humanos) a fim de avaliar de forma mais detalhada os possíveis mecanismos de ação dos compostos bioativos presentes na pimenta rosa.
Por ora, o que podemos afirmar é que a pimenta rosa trará um novo sabor e flavor aos alimentos, e que agrega-la na sua alimentação, com moderação, poderá, sim, ser um salto positivo na sua saúde.
Fúvia de Oliveira Biazotto
Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas (ESALQ/USP)
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos (ESALQ/USP)
Sob orientação: Profª Drª Jocelem Mastrodi Salgado
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