Physalis, Fisalis. Plante, mas não na horta.
Vida Saudável

Physalis, Fisalis. Plante, mas não na horta.


Minha jornada com a físális começou muitos anos atrás. Fui numa festa que serviu as frutinhas como decoração. Intrigado com a forma e o sabor, guardei algumas sementes e espalhei entre os amigos. Uma vizinha ficou com algumas sementes e a muda dela produziu por mais de um ano, ficando enorme, enorme.

Nada mais numa menos do que uma frutinha do tamanho de uma moeda - até menos que uma cereja. Nasce envolta num balãozinho de palha, que fica seco quando a fruta está madura. Aliás, a proteção é dupla: a casca da fruta também é coberta por uma camada de cera escorregadia, o que impede-a de desidratar, murchar e ser atacada por insetos. Quem comeu caju maduro ou carambola na vida sabe essa sensação "gordurosa" da casca.

O sabor? No começo eu achei sonso, depois me apaixonei, porque de sonsa, ela não tem nada. É ácida e doce, lembra laranja com algo a mais, um sabor cítrico. Se estiver verdolenga, porém, amarra a boca, é amarga e tem gosto de remédio.

Você espalha e as coisas voltam pra você. Da vizinha que dei sementes, ganhei frutos, e plantei. Nasceram as netas daquela que comi na festa. Mas disso eu conto jajá. Uma coisa importante - fisális é uma fruta valiosa. E é fruta de festa porque custa caro - uma caixinha com algumas unidades custa mais de R$10,00. Em inglês, chamada de golden berry, é vendida desidratada por exatamente R$138,00 o kilo, preço que pude verificar essa semana na Zona Cerealista, aqui em São Paulo. Caro demais pra uma planta... fácil demais.

A família das solanáceas, a qual a Fisális pertence, é a mesma da berinjela, da jiló, da pimenta e do tomate, e tem várias PANC presentes na família, espalhadas pela América: a marianiera, o maná, o lulo, o melão-andino, o tomatillo e o tamarillo, para citar apenas alguns.

Cada passada pelo pé é uma surpresa.
Os frutos estão lá, basta procurar.

Pra nossa sorte, a fisális, diferente de seus parentes, não é amarga nem ardida. Ufa! É sim ácida, e pode ser bem adocicada. Você pode conhecê-la sob outros nomes: juá-de-capote e camapu. Esses nomes são os mais populares para a frutinha. Mas como seu nome científico é Physalis, eu gosto do nome fisális - e é assim que você a encontra nos mercados.

Pois bem, voltando pra história do meu pé de fisális. Fiz um canteiro novo com restos de bloco de construção, plantei várias verduras, e sem saber o que fazer com a minha mudinha de fisális , resolvi plantá-la no meio da horta. E ela foi crescendo, crescendo.... Ao contrário dos tomates, ficou indiferente à chuva, as folhas não caíram, não murcharam. Não foi atacada por pulgão, nem por cochonilhas, como as mostardas, que padeceram. Não tombou com a chuva, e aguentou bem a seca. Os ramos foram ficando longos e ela produzia cada vez mais flores. E foi ocupando o espaço da cebolinha, da rúcula, dos espinafres, dos tomates, do manjericão...

Quando percebi, na horta só restava o pé de fisális. E não foi pouco - ele cobriu mais de 4m² de área! Não sei dizer o quanto produziu, mas não faltaram frutinhas aqui em casa nenhuma vez no último ano. A colheita nunca é grande, apenas um punhado por semana, mas é contínua. A planta dá flores sucessivamente. O solo era bom, estava cheio de esterco, composto, e com uma cama de palhada bem alta, o que mostra que a fisális adora fertilidade. E retribui com gentileza e abundância.


Três meses atrás, quando a Fisális resolveu
mostrar a que veio.

Aqui tinha uma horta. Agora é um minifundio de Physalis.

A visão que você tem ao erguer um galho:
frutonas, frutinhas.
Mas toda festa tem seu fim, e o da fisális foi gradual. Primeiro, notei uma movimentação em volta dela - foi atacada por percevejos e marias-fedidas. Como deve ser venenosa, nenhum inseto toca as folhas, mas ficam de olho na fruta madura. Assim que a casquinha seca, nhac! Fazem um fura na "embalagem" e detonam a fruta. No começo, deu pra controlar a população de invasores. Catava manualmente e jogava no álcool, fazia um extrato e jogava de volta na planta. Homeopatia ou não, resolveu no começo, mas a população de percevejos evolui rápido demais (suspeito que das frutas maduras contaminadas que caiam no chão e eu não recolhi). Os galhos, com mais de 1 metro, estavam pendentes e alguns quebraram com a chuva. A produção de frutas estava irregular. Me doeu o coração, mas a generosa fisális teve seu fim. Cortei os galhos, piquei bem e reintroduzi na própria horta.

Sementes, eu guardei, mas na horta, não planto nunca mais. Ela merece canteiro próprio!

Ah, sim. Existem diversos tipos de fisális. A que eu tenho acredito ser a Physalis peruviana, mas há ainda outras espécies, como a Physalis angulata e a Physalis pruinosa, sendo essa última com um sabor bem pronunciado de abacaxi e os frutos mais alaranjados. Há ainda o tomatillo, espécie correlata, a Physalis ixocarpa e Physalis phladelphica, de consumo respectivamente cru e cozido, comuns na culinária Mexicana - eu ganhei muda, mas não produziu ainda. A fisális ornamental, ou lanterna-chinesa, de "embrulho" vermelho (Physalis alkekengi)é uma planta tremendamente invasiva e abolida em diversos países - e não é consenso de que seus frutos sejam comestíveis. Na dúvida, evite. E só plante em vaso, ou ela vai detonar seu jardim.

Tomatillo. Verde, assim mesmo. Foto daqui.

Tomatillo. Esse é roxo. Foto daqui.

Para plantar, separe as sementes da fruta, deixe secar na sombra uns dias e plante sem enterrar muito, em solo organico, fértile bem drenado. Ela produz bem em vasos também, mas plantada na terra fica enorme!

Lembrete! Consome-se apenas a fruta SEM o "embrulho". A palha e as folhas são venenosas e não devem ser consumidas!





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